Os desafios de como anuamos na família e na empresa são mais parecidos do que imaginamos
Por Andrea Huggard-Caine Reti
Antigamente, crianças não tinham voz ativa, apenas obedeciam e pronto. Aposto que você já ouviu um pai frustrado expressar isso em algum momento. Confesso que também já pensei e talvez até tenha falado algo parecido.
É incrível como meus filhos, quando eram mais novos e dependiam de mim e do meu marido para quase tudo, acreditavam e se comportavam como se tivessem os mesmos “direitos” que nós! Eles não queriam enxergar ou admitir que o rumo deles estava ligado ao nosso desejo e boa vontade. Se deixasse, eles argumentavam sobre tudo faziam apenas o que queriam, sem pensar em suas responsabilidades! Era preciso convencê-los e negociar para manter a harmonia.
Esse fenômeno das famílias modernas não é muito diferente do que ocorre no mundo corporativo. Pense em como se tornou complicado gerenciar pessoas! Gerenciar é muito mais difícil do que era há 20 anos. O papel dos gestores e líderes mudou. Antigamente, nós dávamos ordens e pronto, mas hoje parece que temos que convencer as pessoas a trabalhar. Isso acontece porque, nos dias de hoje, ninguém espera ficar na mesma empresa ou na mesma profissão para sempre, aceitando a espera e fazendo hora extra até ser promovido pelos degraus cada vez mais estreitos das empresas. Afinal, tempo de casa não é mais sinônimo de sucesso na vida. Com a quebra das hierarquias, a versatilidade da mão de obra e o fluxo constante de pessoas passando por uma empresa, tudo mudou.
Ainda ouço muitos gestores por aí dizendo que os funcionários trabalham apenas porque precisam de emprego. Eles acham que não precisam se preocupar muito em entender os problemas dos colaboradores ou com questões de recursos humanos, afinal, ter um emprego já é suficiente. Isso é uma ilusão. Sugiro que façam uma reflexão mais profunda sobre a validade desse conceito, afinal, sempre haverá mercado para funcionários talentosos e de alto desempenho. E como não existe mais fidelidade às empresas, a probabilidade de perder os melhores colaboradores primeiro é bastante alta.
Há algum tempo, venho observando a semelhança entre esses dois mundos: o mundo profissional e o mundo familiar. Os desafios são muito parecidos, ou seja, precisamos entender e nos comunicar melhor, estimular e recompensar o desempenho, motivar, ensinar a se virar e delegar, entre muitos outros aspectos. A única diferença é que, na família, é mais difícil, já que não podemos demitir nossos filhos e raramente eles pedem demissão! Se quisermos ter uma vida familiar harmoniosa e equilibrada, precisamos aprender a lidar com nossos filhos de maneiras sutis e inteligentes. Hoje em dia, não adianta mais apenas gritar ou colocá-los de castigo. Isso não resolve o problema.
Vendo o quanto nos dedicamos e nos esforçamos para “gerenciar” nossos filhos, penso que se aplicássemos alguns dos conceitos que usamos com eles no trabalho, nossa vida profissional seria mais fácil.
Não tenho todas as respostas, também cometo meus erros e nem sempre aplico tudo o que defendo. Reconhecer isso faz parte da nova forma de liderança. Mas tenho desafios “gerenciais” em casa que são muito semelhantes aos desafios no trabalho, e se consigo encontrar soluções inteligentes para eles, também posso aplicá-las no trabalho e obter resultados semelhantes.
No mundo atual, as contradições fazem parte da nossa vida. Somos seres únicos, mas também somos todos iguais nessa noite. Em um mundo turbulento e em constante mudança, confie em seu instinto, mas não deixe de contar com especialistas para ajudar nas decisões.
O desempenho passado não é garantia de desempenho futuro; é preciso avaliar o potencial futuro com base no desempenho presente. Ao planejar programas, leve em consideração diferentes tipos de pessoas, certifique-se de que seus programas atendam a todos. Tome decisões rápidas, mas não julgue precipitadamente.
O maior desafio é encontrar o equilíbrio entre forças muitas vezes opostas. Devemos perseguir resultados de curto prazo ou investimentos de longo prazo? Devemos priorizar o acesso e a comunicação aberta ou proteger nossos ativos intangíveis? O que é mais importante: fazer a coisa certa ou seguir o procedimento? Em qual informação devemos confiar? Nosso cliente prefere qualidade ou preço baixo? Focamos na segurança ou em conforto e tempo? E assim por diante.
As soluções não são as mesmas para todos, pois mudam de acordo com o momento, e nem tudo é preto no branco. Nossa ética e valores são nossos únicos guias para navegar por essas águas turbulentas. Flexibilidade e disposição para entender a ética e os valores dos outros são essenciais para o sucesso e a única forma de sobreviver no jogo.
É tão gratificante ver nossos filhos indo bem na vida. Essa é a maior recompensa por nosso esforço. Assim como no trabalho, nossa maior recompensa está em nosso próprio sucesso, que geralmente está diretamente relacionado ao bom desempenho da empresa. Isso só acontece com funcionários motivados.
Aqui vai uma dica para qualquer iniciativa que você queira implementar: experimente primeiro em casa. Se não funcionar com seus filhos, também não funcionará na empresa.
Andrea Huggard-Caine Reti atua com Consultoria em empresas de todos os portes e em todas as áreas de Recursos Humanos, principalmente Estratégia, Planejamento, Remuneração e Benefícios. Foi precursora da implantação de programas de Benefícios Flexíveis no Brasil, tanto na parte de desenho como no desenvolvimento de software. Escritora, Palestrante, Empresária e membro de um Conselho Deliberativo e de um Conselho Consultivo, também participa da gestão estratégica de suas empresas familiares. Na Associação Brasileira de RH – ABRH já foi integrante de vários Comitês de Conteúdo do Conarh, Conarh Saúde, Fórum de Saúde Mental, Fórum de Saúde Corporativa, além de ter sido Diretora de Certificação. É adepta ao conceito de Life Long Learning e está sempre atualizada em tendências futuras e inovação. Tem uma carreira internacional, cujo foco foi desenvolver respostas na área de Pessoas, incorporando soluções inovadoras, tecnologia e metodologias próprias. É autora do livro O Segredo de Cuidar das Pessoas – Experiências do Cotidiano para Aumentar o Desempenho das Equipes.