Série inovação consciente – Parte 3

Série inovação consciente – Parte 3

Paradoxos da Inovação

Por Fabio Ban

Paradoxos são situações em que dois conceitos aparentemente opostos coexistem e desafiam nossas suposições convencionais. Talvez uma das grandes dificuldades em decifrar a inovação é o fato de envolver uma série de paradoxos por ser um fenômeno complexo e multifacetado. Por exemplo, você concorda que podemos ter uma perspectiva otimista e ao mesmo tempo pessimista sobre as inovações tecnológicas?

Reconhecer e lidar com estes paradoxos pode facilitar e otimizar o processo criativo para adoção de novas soluções e uso das tecnologias. Quais destes paradoxos é importante a sua empresa aprender a lidar?

  1. Abundância X Escassez:
    Por um lado, a inovação pode levar a um aumento na abundância de recursos e possibilidade, mas, por outro lado, a inovação também pode revelar a escassez de recursos em determinadas áreas. Um exemplo desse paradoxo é a tecnologia de energia renovável. Embora a inovação nesse campo tenha o potencial de fornecer uma abundância de energia limpa, também revela a possível escassez de recursos naturais necessários para a produção de tecnologias como painéis solares, motores elétricos e turbinas eólicas.
    rápido desenvolvimento das tecnologias como a IA estão aumentando cada vez mais a escassez de mão de obra capacitada. Segundo Kelly Palmer (2019), 92% dos CEOs estão preocupados de que seus colaboradores não estejam preparados para a nova realidade do mercado.
  1. Conexão X Desconexão:
    A inovação tecnológica permitiu nos conectar em níveis nunca vistos. No entanto, também pode levar à desconexão humana. Através das redes sociais e novas tecnologias de comunicação, estamos mais conectados do que nunca. No entanto, essa hiper conexão também pode levar à alienação e à falta de conexão interpessoal. Convido a refletir neste momento, estando aqui e agora, conectado digitalmente com pessoas em todo o mundo, o quanto se encontra desconectado emocionalmente das pessoas ao seu redor?
  1. Facilidades X Dificuldades:
    É fato que a inovação gera muitas facilidades e conveniências para nossas vidas. No entanto, também pode trazer novos desafios e dificuldades. Por exemplo, a automação e a IA simplificaram muitas tarefas, mas também geraram preocupações sobre o desemprego (citado no item 1) e a ética do uso de tecnologias. A inovação traz tanto facilidades quanto dificuldades, e é muito importante pensar como equilibrar os benefícios com os desafios resultantes.
  1. Velocidade X Lentidão:
    A inovação está intrinsecamente ligada à velocidade e ao ritmo acelerado das mudanças tecnológicas. Segundo o Fórum Econômico Mundial, para 50 milhões de pessoas terem acesso à eletricidade, demorou em torno de 46 anos. Para 100 milhões de pessoas acessarem o ChatGPT, bastaram 2 meses. Contudo a capacidade humana em se desenvolver é mais lenta, o que torna cada vez mais difícil as organizações em usufruir das tecnologias e aproveitar todo o potencial para inovar. O paradoxo da velocidade versus lentidão na inovação nos lembra que nem todas as soluções podem ser alcançadas instantaneamente.
  1. Aprendizagem X Desaprendizagem:
    A inovação requer aprendizagem contínua e abertura para novas ideias e abordagens. No entanto, pode também exigir desaprender ou abandonar conhecimentos e práticas obsoletas. Vale analisar quando a resistência à desaprendizagem se torna um dos principais obstáculo para a aprendizagem e inovação. Um exemplo desse paradoxo é a transição para a computação em nuvem. As empresas precisam aprender novas habilidades e abordagens, mas também desaprender a dependência de servidores físicos e sistemas tradicionais.
  1. Riqueza X Probreza:
    Entende-se que inovação é gerada para riqueza e prosperidade, mas podemos perceber que há um aprofundamento da divisão entre ricos e pobres. Se por um lado a inovação tecnológica pode criar oportunidades econômicas e melhorar a qualidade de vida. Por outro, pode exacerbar desigualdades econômicas, criando um fosso entre aqueles que têm acesso à tecnologia e aqueles que não têm. É preciso reconhecer que um dos grandes desafios é garantir que a inovação seja inclusiva e beneficie a todos.
  1. Democratização X Desigualdades:
    Historicamente podemos verificar que a inovação pôde proporcionar a democratização, permitindo o acesso a recursos e oportunidades, antes, inacessíveis. No entanto, também pode amplificar desigualdades existentes. Por exemplo, a internet nos proporcionou acesso à informação e comunicação global, mas também criou uma lacuna digital entre aqueles que têm acesso à conectividade e aqueles que não têm. A inovação só será verdadeiramente transformadora se for acompanhada de esforços para reduzir essas desigualdades.
  1. Benefícios X Malefícios:
    Apesar da inovação trazer benefícios significativos, também pode ter efeitos colaterais indesejados. Pense, por exemplo, a inovação na área da medicina e da genética, trazendo avanços no tratamento de doenças, mas também gerando questões éticas sobre a manipulação genética e a privacidade dos dados médicos. É de fundamental importância avaliar cuidadosamente os benefícios e os possíveis malefícios da inovação e tomar medidas para minimizar os impactos negativos, considerando o presente e o futuro.
  1. Realidade X Ilusão:
    A inovação pode nos proporcionar experiências e realidades virtuais cada vez mais avançadas, mas também pode criar ilusões e distorções da realidade. A realidade virtual e a realidade aumentada oferecem novas possibilidades em áreas como entretenimento, educação e treinamento. No entanto, também é importante equilibrar essas experiências virtuais com uma conexão e compreensão sólidas da realidade física.
  1. Desejo X Resistências:
    A inovação muitas vezes é impulsionada por desejos e aspirações de avançar, melhorar e superar desafios. No entanto, também pode enfrentar resistências e obstáculos. Mudanças disruptivas podem encontrar resistência de pessoas e instituições que se sentem ameaçadas por essas mudanças. É necessário encontrar um equilíbrio entre a motivação e o desejo de inovar e a capacidade de superar as resistências para alcançar o progresso.

    Apesar de muitos acessarem o ChatGPT, existem uma parcela ainda maior que, mesmo sabendo de sua existência, ainda não se dispôs a experimentar esta nova tecnologia. Isso é possível verificar com diversas outras tecnologias que têm enorme potencial de gerar grandes inovações para a organização, mas não são aproveitadas ou subutilizadas.

  1. Necessidade X Irrelevância:
    A inovação pode responder a necessidades existentes, mas também pode criar produtos e serviços que parecem irrelevantes em um primeiro momento. Por exemplo, o surgimento de novas tecnologias pode criar produtos que as pessoas não sabiam que precisavam, mas que rapidamente se tornam indispensáveis. A inovação pode, portanto, desafiar as noções convencionais de necessidade e criar X demandas e expectativas. Chamamos de inovações disruptivas. De acordo com Paulo Carvalho, Chief Ecossistem Officer da Xper Global: “Inovação é tornar o que é feito em obsoleto e o que não existe em indispensável, gerando receita ou reduzindo custos”.

Vale novamente lembra que se a sua empresa não buscar pela disrupção, um possível e desconhecido concorrente o fará.

Ao refletirmos sobre esses paradoxos da inovação, torna-se evidente que é um processo complexo e dinâmico, repleto de desafios e oportunidades. O reconhecimento desses paradoxos nos leva a uma compreensão mais profunda de suas complexidades e nos convida a abraçar as tensões inerentes a esse processo.

Podemos reconhecer também que não há respostas simples ou fórmulas prontas para superar esses paradoxos. No entanto, a consciência deles nos ajuda a adotar uma abordagem mais equilibrada, considerando cuidadosamente os aspectos positivos e negativos da inovação – uma visão mais sistêmica. Neste sentido, vale sempre considerar os impactos sociais, econômicos e ambientais. E para isso, é essencial promover uma cultura de aprendizagem contínua, adaptabilidade e colaboração para enfrentar esses paradoxos de maneira criativa e construtiva.

Para finalizar, a inovação é um processo contínuo e iterativo, e é a nossa capacidade de abraçar e lidar com esses paradoxos que nos permitirá impulsionar o progresso, encontrar soluções sustentáveis e moldar um futuro mais próspero e equilibrado.

Fábio Ban é Conselheiro TrendsInnovation, Educador em Mentor de Inovabilidade e Ambidestria e Líder do Capitalismo Consciente Filial Regional Paraná

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