Por Claudia Hausner
O estranho caso da empresa que em agosto de 2020 almejava ser avaliada em cerca de R$ 100 bilhões, em março deste ano 2021 viu as expectativas caírem para R$ 70 bilhões e agora para R$ 45 bilhões…
A percepção de valor de uma empresa é consequência de um conjunto de variáveis. Tradicionalmente são pautadas em 4 princípios: transparência, equidade, prestação de contas e responsabilidade corporativa. Eu acrescento dois novos princípios: 5º: diversidade e 6º visão de futuro.
Esses princípios são a base de uma Governança Corporativa, que pode tornar possível alinhar interesses para preservar e otimizar o valor econômico da organização em longo prazo, facilitando o acesso a recursos e contribuindo para a qualidade da gestão, a longevidade e o bem comum.
A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD, na sigla em inglês) define a governança corporativa como “o conjunto de relações entre a administração de uma empresa, seu conselho de administração, seus acionistas e outras partes interessadas”. Ainda segundo a OECD, a governança “proporciona a estrutura que define os objetivos da empresa, como atingi-los e a fiscalização do desempenho”.
Vamos olhar como esses princípios constroem (ou destroem) valor para a empresa e, a partir de então, você mesmo pode concluir porque a empresa citada do início deste texto teve seu valor desvalorizado.
Transparência o que digo que farei, faço, e sumarizo o que foi feito, e está diretamente ligada aos pilares: prestação de contas, manifestação de intenção, disponibilidade e abertura ao feedback. Prestação de contas são decorrentes de dados econômico-financeiros macro obrigatórios (balanços, DRE, Fluxo de Caixa, mutação patrimonial, como alguns exemplos) e de dados micro de gestão, os indicadores de performance de cada departamento, área e setor, os ciclos comerciais, produtivos e financeiros, tudo considerando o momento da economia local e internacional. Gera confiança.
Manifestação de intensão é a tentativa de transformar em números (orçamento) onde se quer chegar (intenção) e esse conjunto chamo de planejamento estratégico. Define longo prazo e paradoxalmente devem ser revistos sempre e de novo, pois há uma velocidade no mundo que exige olhar de novo e de outro jeito mais uma vez, passando a ser rotina a revisão.
Visão de futuro, tendencias, como continuaremos alinhados a quem está alinhado com os nossos propósitos hoje. Ou seja, temos que seguir para onde está indo quem nos demanda hoje de nossas soluções. O que e como fará sentido para esse público daqui a 5 ou mesmo 10 anos? Constrói-se valor respondendo essas perguntas e repetindo as com frequência. Gera metas. Gera diretrizes consistentes.
Construção de valor ocorre quando a fotografia não tem fotoshop. Qual a foto que se deseja ter no futuro? Discutir cenários e desenhar este futuro este é o desafio.
Disponibilidade para a empatia (entendimento holístico, permitindo diversos olhares, ou seja, a diversidade) em conjunto com abertura ao feedback: o que está dando certo ou não, e como se pode fazer ajustes rápidos. O alinhamento do porquê entregamos uma solução, nosso propósito (quer seja produto ou serviço) e as crenças das quais não abrimos mão (o que genuinamente acreditamos e valorizamos) perpetuaram empresas centenárias e continuarão perpetuando as empresas tradicionais e da nova economia. Propósito e crenças passam a ser nossa bússola para as tomadas de decisão.
Colegiado diverso e preocupado com a longevidade da empresa contribui para o valor dos negócios. Gera sustentabilidade.
Equidade, direitos e obrigações iguais para as contrapartes. A base é respeito. Gera tranquilidade.
Responsabilidade Corporativa é um importante elemento de construção de valor, dado que a responsabilidade sobre ecossistemas eficientes e que preservam o meio mantém prosperidade para todos. Gera orgulho de fazer parte.
Quando esses princípios não estão presentes, há a perda efetiva de valor.
Claudia Hausner é Socia Fundadora da HH Inteligencia, Conselheira TrendsInnovation da Inova Business School, atuou em conselhos de empresas familiares e conselho consultivo. A HH entrega em seus serviços de consultoria: construção de valor, soluções financeiras, valuation, plano de negócios (também para start-ups), transformação digital e gestão de alto impacto para empresas com desejo de reposicionamento, perpetuidade e prosperidade. Quando executiva dentro do setor financeiro foi C-Level e desenvolveu ampla experiencia em mercado de capitais tendo atuado principalmente em bancos de investimento.