As duas, mas dependendo do estágio da empresa, do tipo de negócio ou dos planos da empresa, uma delas será a mais indicada.
Por Marcio Motter
Só para lembrar, Lucros & Perdas ou Demonstração de Resultados do Exercício apresenta o resultado econômico da empresa, enquanto o Fluxo de Caixa apresenta o resultado financeiro da empresa.
Na minha opinião o fluxo de caixa é a demonstração financeira mais importante a ser acompanhada, e hoje explico o porquê: normalmente uma empresa não quebra por ter prejuízo, mas sim por não conseguir ter caixa para suprir as suas necessidades.
Essa minha afirmação é fácil de ser comprovada pela notícia sobre o Uber divulgada em agosto de 2022: pela primeira vez em seus 13 anos de operação contabilizou US$ 382 milhões de lucro no segundo trimestre de 2022, isso depois de ter gasto US$ 25 bilhões (isso mesmo: vinte e cinco bilhões de dólares). Quando o Uber abriu o capital em 10/05/19 ele foi avaliado em US$ 75 bilhões, mesmo com o seu histórico de prejuízo.
Além do Uber, outras tantas empresas, inclusive unicórnios, que até pouco tempo atrás faziam parte das notícias referentes as milionárias rodadas captações de recursos, passaram a tomar medidas visando a rentabilidade, algo que antes nunca ter sido uma preocupação delas.
Uma empresa com prejuízo e sem geração de caixa tem menos opção de obtenção de um empréstimo bancário, por isso que as start-ups acabam privilegiando a sua gestão com base no Fluxo de Caixa. Normalmente o Fluxo de Caixa é uma ferramenta utilizada pelo time do financeiro e da alta gestão, através do qual pode-se tomar uma série de decisões, por exemplo:
- Quais projetos serão priorizados considerando os recursos disponíveis;
- Definir as fontes dos recursos necessários para financiar esses projetos e a própria operação (recursos próprios, captação de empréstimos, venda de algum ativo ou aumento de capital);
- Antecipar recebíveis, assumindo que seja uma necessidade pontual e de curtíssimo prazo;
- Antecipar pagamentos a fornecedores considerando que o desconto financeiro obtido seja maior que a rentabilidade da aplicação financeira do saldo de caixa disponível;
- Aumentar o prazo de pagamento; ou
- Reduzir o prazo de recebimento.
Uma empresa com geração de caixa positivo (total de entradas maior que o total de saídas) tem mais facilidade para captar empréstimos no mercado para financiar os seus projetos.
Com relação ao Lucros & Perdas, ele é muito utilizado pelas diversas áreas da empresa com foco no resultado econômico da operação. Através do Lucros & Perdas pode-se avaliar o desempenho de um projeto em específico ou de uma operação, permitindo a tomada de diferentes decisões entre elas: investir em novos produtos ou mercados, contratar novos recursos, cortar custos ou despesas etc.
O Lucros & Perdas também é analisado e acompanhado pela alta gestão da empresa; só que neste caso é a visão consolidada (soma do Lucro & Perdas de todas as áreas). Ele serve para a tomada de diversas decisões, entre elas: a manutenção ou não de alguma área da empresa, investimento em novos mercados ou desinvestimento em algum mercado em que esteja atuando.
A não ser que uma unidade de negócio seja totalmente independente, é quase impossível, ou extremamente trabalhoso, conciliar os fluxos de caixa das unidades de negócio, por exemplo: validar se todas elas usaram as mesmas regras de antecipação ou postergação de um custo ou despesa que vence em um final de semana; ou como tratar a sobra de caixa de uma unidade e a falta de caixa de uma outra.
Resumidamente tanto o Lucro & Perdas, quanto o Fluxo de Caixa, são importantes na gestão da empresa. Cada qual gerado e analisado para a tomada de decisões operacionais, táticas e estratégicas. Apesar de complementares, sempre priorizei o Fluxo de Caixa por entender que ele é o melhor termômetro de analisar a saúde da empresa.
Marcio Motter é Conselheiro associado da Conselheiro TrendsInnovation, Executivo Financeiro com mais de 25 anos de experiência em Tesouraria, Controladoria, Planejamento, Fusões & Aquisições, Relações com Investidores e emissão de títulos de dívida (bonds e commercial papers) em diferentes setores (publicação, restaurantes industriais, defesa e eletrônicos). Ao longo de todos esses anos ele atuou próximo às áreas de negócio viabilizando alternativas consistentes com a estratégia da empresa e não apenas no controle de custos, despesas e processos; gerindo os riscos das operações e não levantado empecilhos ou limitações para a realização delas. É autor do e-book “Aumente o seu lucro sem aumentar o preço”, titular da coluna “Finanças e Gestão Financeira” da Cloud Couching” e mentor do InovAtiva desde 2017.