Custo invisível: aquele que consome recursos e ninguém vê

Custo invisível: aquele que consome recursos e ninguém vê

Existe um ditado que diz “custo é igual a unha, tem que cortar sempre”. Em várias situações existe ninguém consegue vê-lo

 Por Marcio Motter

Não vou tratar neste artigo as questões técnicas relacionadas ao assunto custo, mas sim apresentar algumas situações genéricas relacionadas a viagens corporativas que muitas vezes geram custos invisíveis para muitos.

Vários de vocês já foram surpreendidos com o preço da passagem área para fazer uma visita a um cliente, principalmente se ela for comprada próxima a data da viagem. Vamos imaginar que ele esteja custando 3 vezes se tivesse sido comprada com antecedência. O que você faz?

Se fui chamado com urgência pelo cliente por causa de um problema, não tenho dúvidas de que vou pagar o valor que for. O custo de não ir pode ser a perda do cliente.

Se a visita ao cliente é para fechar um pedido de R$ 1 milhão, por exemplo, vou até de primeira classe se for a única opção. Não vou correr o risco de perder um contrato por causa do valor da passagem.

Por outro lado, se é uma visita corriqueira eu negociaria com o cliente uma outra data que permita a compra de uma passagem mais barata. Atenção: eu disse negociaria; se o cliente insistir na data talvez o custo valha a pena.

Outra razão para assumir o alto custo da passagem seria se tivesse deixado para comprar na última hora; não ir ou tentar adiar pode desgastar a relação com o cliente.

Apesar desse exemplos valerem para viagens nacionais e internacionais, as internacionais são as mais emblemáticas. Além do custo variar em função da antecedência da compra, tem também a questão da classe econômica ou classe executiva.

Vamos imaginar que você precise estar na reunião terça-feira cedo e que a viagem de avião seja de 10 horas, sem contar as 3 horas de antecedência para estar no aeroporto.

A maioria das empresas comprará para o funcionário classe econômica do voo de segunda-feira à noite. Assumirão que ele trabalhará o dia todo e que terá desempenho excepcional na reunião em língua estrangeira. Esquecem que ele é humano e que é normal, e até esperado, estar desgastado física e mentalmente pela longa viagem.

O que custa mais? Dar melhores condições ao funcionário comprando para ele uma passagem na classe executiva, ou correr o risco do cansaço da viagem impactar na sua performance durante a reunião?

Como alternativa algumas empresas oferecem ao funcionário viajar sábado ou domingo, para ele ter tempo de descansar e se recuperar até a reunião da terça-feira cedo. Alegam que o custo adicional de estadias e alimentação é mais barato do que a passagem na classe executiva.

Sim é verdade, mas para mim é um desrespeito privar o funcionário de uma reunião familiar no fim de semana, de brincar com suas crianças, de visitar um amigo ou parente. Para mim, fica parecendo que o tempo livre do funcionário não tem valor para a empresa.

Assumindo que a viagem precisa ser feita, que gerará valor para a empresa e que haja por parte da empresa uma real preocupação com o bem-estar do funcionário, a viagem na classe executiva é indiscutível. Por outro lado, se a viajem não trouxer qualquer valor para a empresa, ela nem deve ser feita; é mais produtivo fazer a reunião remota e não presencial.

Confesso que já viajei sexta-feira à noite em classe econômica e participei de reuniões já na segunda-feira cedo, ao invés de ir domingo à noite na classe executiva. Foi uma troca que fiz no passado e só faria novamente se a minha família fosse comigo na sexta-feira.

Considerar apenas os custos que enxergamos (custo da passagem), sem entender a situação (real motivo da viagem) e nem identificar os outros custos (tempo do funcionário, as condições que lhe são disponibilizadas e o risco da sua performance pelo desgaste), podemos tomar uma decisão achando que estamos economizando, quando na realidade estamos desperdiçando recursos.

Marcio Motter é Conselheiro associado da Conselheiro TrendsInnovation, Executivo Financeiro com mais de 25 anos de experiência em Tesouraria, Controladoria, Planejamento, Fusões & Aquisições, Relações com Investidores e emissão de títulos de dívida (bonds e commercial papers) em diferentes setores (publicação, restaurantes industriais, defesa e eletrônicos). Ao longo de todos esses anos ele atuou próximo às áreas de negócio viabilizando alternativas consistentes com a estratégia da empresa e não apenas no controle de custos, despesas e processos; gerindo os riscos das operações e não levantado empecilhos ou limitações para a realização delas. É autor do e-book “Aumente o seu lucro sem aumentar o preço”, titular da coluna “Finanças e Gestão Financeira” da Cloud Couching” e mentor do InovAtiva desde 2017.

 

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