Por Claudia Hausner
Como e por que Conselhos de empresa foram criados e passaram a ser um dos pilares de Governança Corporativa.
Decorrente de leis ou regulamentações de autárquicas praticamente no mundo todo tem, quer seja no Governo, quer seja na iniciativa privada, ou em ambos, a figura do Conselho. Governança Corporativa tem o Conselho no centro da responsabilidade pois são os Conselhos, e principalmente o de Administração, que dão as diretrizes estratégicas.
A constituição de um Conselho tem como base as tomadas de decisão de um colegiado (e, portanto, deveriam ser éticas, imparciais, sustentáveis e que levam a uma prosperidade no seu sentido mais amplo). No universo corporativo conselhos organizam as relações entre sócios (ou acionistas), entre acionistas e executivos e entre os executivos que farão a gestão da empresa.
Conselhos inicialmente no mundo corporativo era formado por sócios quotistas ou acionistas. A separação entre investidores e conselho foi necessária a medida que foi aumentando o número de investidores, quando já não era mais possível obter bons resultados. Membros do Conselho representando interesses de grupos de acionistas, uma vez que a empresa vai bem, todos acionistas se beneficiam. Entretanto os conselhos exerciam baixa governança na prática, até que ocorreu o grande escândalo de auditoria (caso Enron – Arthur Andersen 2002) e que mudou o cenário com relação ao papel de um Conselho e nível de exigência e responsabilidade.
Conselho de Administração passou a ser mais peso e mais responsabilidade e gerou demandas maiores de controles e rigidez em sua forma de atuação.
27 anos é a idade do IBGC – Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (fundado em 21/11/1995 que deu roupagem ao tema no Brasil. Mas nesses últimos quase 30 anos vivenciamos grandes impactos e mudanças no mundo.
Abaixo a alguns fatos relevantes que ocorreram nessas 3 últimas décadas para contextualizar e fazermos uma reflexão: faz sentido Conselhos estarem sendo repensados e pressionados para estarem mais alinhados com ecossistemas e demandas do momento.
Década de 90 foi marcada pelos seguintes acontecimentos no mundo: começou com o colapso da União Soviética e o fim da Guerra Fria, sendo esses seguidos pela consolidação da democracia, globalização e capitalismo global. Fatos marcantes para a década foram a Guerra do Golfo e a popularização do computador pessoal e da Internet, inicio da pauta diversidade (homossexualidade). No Brasil, os anos 90 começaram com instabilidade, com o confisco de poupanças do presidente Fernando Collor, seu impeachment, nos governos seguintes o país experimentou estabilidade econômica e crescimento com o Plano Real (1994), mudança da Constituição, mudanças da política cambial (de bancas cambiais para moeda flutuante), internacionalização da economia, intensivo processo de privatização.
Não ocorreu o Bug do Milenio em 2000!
Mas tivemos ataque terrorista, foi criada a zona do Euro e a moeda (2002), houve a invasão do Iraque, nasce Facebook (2004), viramos “touch” (Steve Jobs, 2007 I-phone). Foi uma das décadas mais estáveis e prósperas da economia mundial. A China e demais tigres asiáticos atingem um crescimento econômico sem precedentes. Boom das commodities. A Internet se consolida como veículo de comunicação em massa e armazenagem de informações, globalização da informação atinge um nível sem precedentes históricos. O Brasil consegue acumular mais reservas do que a dívida externa, recebendo status de credor. Embora, apresentando crescimento econômico médio-baixo em comparação com a média dos países emergentes, o país mantém sua economia estável. Até o final do ano de 2007 quando a Crise econômica de 2008-2009 colocou em risco a economia mundial levando vários países a entrar em recessão. Início das starts-up (definição na época: “Startups são empresas em fase inicial que desenvolvem produtos ou serviços inovadores, utilizam plataformas digitais e a internet e que tem potencial de rápido de crescimento.”)
A década de 2010 teve início enfrentando as consequências após o fim crise econômica mundial, que afetou especialmente os países da União Europeia. A América Latina, sofre menos a crise. Os Estados Unidos mantiveram o seu status global de superpotência, levemente ameaçados pela contínua expansão chinesa, que lança vastas iniciativas econômicas e grandes reformas militares e tenta aumentar sua influência na África e no Mar do Sul da China. A década ficou marcada pela crise migratória na Europa, milhares de migrantes irregulares vindos da África, Oriente Médio e Ásia Meridional buscam refúgio nos estados membros da União Europeia. Uma das grandes polêmicas na Europa foi o anúncio da saída do Reino Unido da União Europeia (Brexit – outubro de 2019). O aumento da desigualdade econômica nos países desenvolvidos também foi um importante tema de discussão ao longo da década. No Norte da África, irrompeu a Primavera Árabe, em que regimes ditatoriais iniciados ainda no século XX foram depostos através de forças populares. Por outro lado, emergiu o grupo terrorista Estado Islâmico do Iraque e do Levante, que estendeu sua atividade para todo o norte da África e até mesmo para a Europa, sendo particularmente notáveis os ataques terroristas de novembro de 2015 em Paris. Diversidade passa a ser pauta no mundo.
Nestes 10 anos, o Brasil recebeu diversos eventos importantes do mundo, sendo políticos ou religiosos: a Rio+20 em 2012, a Jornada Mundial da Juventude de 2013 quando o Papa Francisco fez sua primeira visita ao país, e a 2.ª, 6.ª e 11.ª Cúpula do BRICS em 2010, 2014 e 2019, respectivamente. Entrou na pauta do Brasil a real preocupação com o meio ambiente depois do desastre da ruptura da barragem de Mariana(novembro de 2015) e o rompimento da barragem de Brumadinho (janeiro de 2019).
Outro marco importante da década foi a popularização dos dispositivos móveis., ou seja, um mundo indo em direção a 100% conectado! Explosão dos unicórnios (definição: Basicamente, esse é o nome que se dá para as startups que alcançam valor de mercado de um bilhão de dólares) e de ecossistemas interligados.
Os anos de 2020 e 2021, além das questões de política internacional, conflitos geopolíticos e econômicos, o mundo teve que lidar com a carta nova que estava fora do baralho: o evento da pandemia, que alterou totalmente formas e hábitos. A globalização da interconectividade ajudou a Transformação Digital ocorrer em todos os níveis e na maioria dos países.
Conselhos deram suporte aos executivos das empresas, tiveram que se adaptar, tiveram que lidar com todo um cenário impactante em todos os sentidos, e certamente tiveram que mudar.
Conselho Consultivo atua como uma comissão externa de aconselhamento, orientando líderes e gestores. Conselho Consultivo traz mais maturidade e qualidade para o trabalho da organização. Conselho Deliberativo ou de Administração foca na diretriz, estratégia e potencializa a longevidade das empresas. Conselho de Família é o forum onde a família consegue discutir questões afetas a Familia de forma isenta e que tem o objetivo de harmonizar a família e de não contaminar o negócio da empresa com questões familiares.
Claudia Hausner, Socia fundadora da HH Inteligencia, Conselheira Trend Innovation da Inova Business School, atua em conselhos de empresas familiares e conselho consultivo em Estratégia, M&A e Finanças. A HH foca seus serviços de consultoria em: construção de valor, soluções financeiras, valuation, plano de negócios (também para start-ups), transformação digital e gestão de alto impacto para empresas com desejo de reposicionamento, perpetuidade e prosperidade. Quando executiva dentro do setor financeiro foi C-Level e desenvolveu ampla experiencia em mercado de capitais tendo atuado principalmente em bancos de investimento.