A importância da visão estratégica dos conselhos nas empresas de pequeno e médio portes

A importância da visão estratégica dos conselhos nas empresas de pequeno e médio portes

Por Cirley Ribeiro, Jornalista*
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A empresária Cleicimar Tavares, sócia da Aloha Breads, percebeu recentemente que nem sempre o gosto pessoal dela é também o gosto do cliente. A descoberta veio em um processo de transformação, desde que a fabricante de pães de banana artesanais adotou um conselho consultivo. Foi há cerca de um ano, quando a Aloha Breads passou a contar com uma equipe multidisciplinar estratégica, formada por conselheiros experientes.

“Tivemos de mudar muita coisa”, admite Cleicimar. “O empresário é muito apegado, muito apaixonado, e carrega vícios que um olhar de fora consegue enxergar”. Segundo ela, com a ajuda do grupo foi possível perceber práticas que costumam empacar o negócio, baseadas no puro “achismo”.

Estar aberto à mudança cultural é o primeiro passo para a criação de conselhos consultivos ou de administração nas empresas de pequeno e médio portes. O economista Fernando José de Paula e Silva – diretor da Problem Solution e 2.º vice-presidente da Associação dos Conselheiros TrendsInnovation do Brasil – entende a adoção de conselhos como a possibilidade de ampliar a visão estratégica do negócio. “O empresário precisar aprender a tomar decisões com um colegiado, que vai contribuir para o entendimento saudável das dificuldades e propor soluções visando a longevidade da empresa e uma perspectiva de tendência, futuro e inovação”, explica.

Em busca dessa visão estratégica para otimizar resultados, a EAP – Engenharia de Alta Performance – está implantando seu corpo consultivo. O processo teve início há pouco mais de um mês, por sugestão de Márcio Teschima, 1.º vice-presidente da Associação dos Conselheiros TrendsInnovation. “A gente abraçou a ideia”, conta o engenheiro civil Vagner Cunha, um dos líderes e fundadores da EAP. A empresa de educação corporativa e soluções em gestão para construção civil, sediada em Salvador (BA), já observa um feedback positivo desde a criação do grupo. “Ele trouxe melhor clareza para o caminho que a gente quer seguir e aonde quer chegar”, resume Cunha.

Márcio Teschima afirma que há mudanças claras na economia quando a empresa de pequeno ou médio porte aposta na instalação de conselhos consultivos ou de administração. “Muitas empresas sofreram e ainda sofrem com a pandemia, e sabemos como é difícil tomar decisões sozinho ou de forma isolada”, pontua Teschima. Para ele, ter o apoio de um grupo preparado para efetuar mudanças permite olhar de forma ativa para o futuro, para as tendências e a inovação. “Levamos para a empresa recursos que ajudam na busca da perenidade do negócio”.

A presença de cabeças experientes, habituadas a administrar crises, vem gerando “bons frutos” na Aloha Breads, segundo Cleicimar Tavares, uma das três sócias da foodtech localizada em São Paulo (SP). Ela cita o acesso à rede de contatos dos conselheiros, a conexão com possíveis parceiros, a compreensão de diferentes soluções e a credibilidade conferida ao negócio. “Isso otimiza sua estrutura e seus processos”, resume a empresária. Cleicimar argumenta que o know how dos profissionais transmite muita segurança. “Sozinho, o empreendedor esquece pontos cruciais e não enxerga a importância da gestão, da governança e da sustentabilidade”.

Apresentar soluções colegiadas para as dores das empresas é um dos principais objetivos do conselho consultivo, explica o economista Fernando José de Paula e Silva. Ele entende que negócios de qualquer porte podem estruturar seus grupos, garantindo um olhar multidisciplinar para alçar voos mais longevos. Essa também é a opinião de Emílio Burlamaqui, presidente da Associação dos Conselheiros TrendsInnovation do Brasil. Segundo ele, os executivos precisam entender que “o colegiado soma”, e oferece visões importantes para apoiar a gestão, garantir a segurança financeira e proteger a empresa. “O conselho é a camada que atua entre a propriedade e a gestão”.

Empresas brasileiras de pequeno e médio portes, de todos os segmentos, têm investido na implantação der conselhos. É a busca por melhores práticas de mercado, garantindo crescimento e alinhamento aos requerimentos financeiros, legais, fiscais e trabalhistas. “Não importa o tamanho e nem a complexidade dos processos; são empresas que têm mudado seu patamar a partir do apoio e direcionamento de um conselho”, reforça Emílio Burlamaqui.

A definição de estratégias depende das características e necessidades de cada negócio. Márcio Teschima observa que, muitas vezes, o dono da empresa entende a necessidade e o valor de um colegiado, “mas em contrapartida tem medo de perder o poder”. Para Leandro Herculano, conselheiro TrendsInnovation e estrategista comercial, uma das principais dificuldades é entender a importância do conselho para a longevidade do negócio e pensar de maneira estratégica sobre a sucessão de empresas familiares. Ele cita a pesquisa da PWC, realizada em 35 países em 2021, apontando que somente 36% das empresas familiares sobrevivem à passagem do bastão para a segunda geração.

A limitação financeira também é apontada como um grande desafio à implantação de conselhos nos negócios de pequeno porte. É preciso adequar o modelo às empresas desse perfil, defende o engenheiro Vagner Cunha; “porque não tem grana, o empresário está ali na trincheira”. Fernando José de Paula e Silva concorda que a adequação financeira é necessária, mas não pode ser vista como entrave. Márcio Teschima reforça o coro e ressalta: “os empresários em um estágio maior de maturidade dizem que não ter um conselho é que se torna caro”.

Na Aloha Breads o que viabilizou a implantação do conselho consultivo foi o apoio voluntário de uma rede de profissionais “que acreditam no negócio e querem ver crescer”, explica a sócia Cleicimar Tavares. Embora esse time de conselheiros não se dedique à empresa em tempo integral, ele consegue manter uma agenda contínua de reuniões e já estabeleceu metas: em 24 meses a Aloha Breads deverá triplicar o faturamento anual de R$1,2 milhão.

Cirley Ribeiro é jornalista, professora de Comunicação Social e diretora de O Redator.

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