Por Marcio Teschima
A Influência da Alta Gestão na Transformação Digital das Empresas.
A Transformação Digital virou uma Buzzword, e vem inundando os canais de comunicação, internos e externos, das corporações.
Mas o que é realmente a Transformação Digital e como atingimos esse status nas empresas? E mais, o que um Conselho tem a ver com esse tema?”
Não é mais possível decidir se uma empresa continuará analógica, fazendo planilhas em excel, atendimento no SAC por um time enorme de pessoas ao telefone e vendas em lojas físicas, ou se passará por uma transformação digital.
Vender online e automatizar a maior parte dos processos administrativos e comerciais é não apenas uma obrigação como também uma necessidade atual. E essa decisão, por mais dolorosa que seja, precisa ser tomada rapidamente pelo Conselho Administrativo ou Consultivo.
Os Zeros e os Uns
Agora, vamos entender de onde vem esse termo, e o que ele significa para uma empresa nos dias de hoje.
O conceito de Transformação Digital Binária data de 1703, sim, tem mais de 300 anos! Os termos de aritmética numérica de base 2 criaram o que chamamos de números binários, os zeros e uns, que foram complementados com mais estudos e se tornaram prática real em 1940.
Fazendo de uma história longa e densa um conto curto em um parágrafo, vou conceituar o termo digital em quatro marcos. Primeiro marco foi a criação do sistema binário; o segundo marco foi a criação do computador, inventado para decifrar cálculos na Segunda Grande Guerra; o terceiro marco foi a transformação desse computador gigantesco que chegava a ter tamanho de andares ou prédios para um que fosse portátil, fazendo-nos entrar, assim, na era do Computador Pessoal; e, por fim, o quarto marco, foi a criação da World Wide Web, ou simplesmente www, que chamamos de internet.
De antemão já peço perdão aos historiadores e estudiosos, pois aqui tratamos de conceitos pelo meu ponto de vista, e por isso serei sucinto e prático para alguns.
Saindo dessa viagem e chegando aos dias de hoje, entendemos por Transformação Digital o fenômeno que incorpora o uso da tecnologia digital na solução de problemas tradicionais. Isso abrange mudanças procedurais em diversos âmbitos de uma sociedade. Em outras palavras, essa transformação modifica o paradigma da utilização da tecnologia em áreas como governo, economia, mercado de trabalho, educação, medicina, artes, ciência, comunicação global, entre outras.
E para uma empresa, no que essa transformação implica?
Implica no uso inteligente da tecnologia voltada às necessidades das pessoas, sejam elas clientes ou funcionários, de modo a otimizar processos, reduzir custos, aumentar vantagens competitivas ou simplesmente adequá-las a uma nova realidade.
O ponto que quero colocar em destaque aqui é, sim, a adequação dessa empresa perene, até aqui tradicional, mas que pela mudança de hábitos da população, ou seja, seus clientes, precisa se atualizar.
“Mas como isso? Chegamos até aqui passando por outras crises e, mesmo assim, estamos firmes e fortes no mercado.”
Essa frase escutei do Seu João, dono de uma indústria Cearense em 2016. O problema é que o Seu João não estava atento às mudanças de hábitos da população, à acessibilidade e às tendências de consumo.
“E como olhar para o lugar certo diante do futuro? O Brasil não é para principiantes?”
A minha resposta é: não sei!
Não sei o que vai ser o futuro, porém, posso dizer que sei, sim, o que pode ser feito para estar preparado para as adversidades.
Primeiro passo é fazer o básico: a correta gestão das contas da empresa, mitigação ou eliminação dos passivos, não alavancar o negócio financeiramente de maneira que ele – ou o mercado – não suporte, ter correta visão contábil e fiscal e pagar todos os impostos. Nem citei a gestão do caixa porque sem caixa a empresa entra em um círculo vicioso que pode levá-la a falência. Vender e receber parece óbvio, mas não é! Atenção nisso!
OK, e o que a Transformação Digital tem a ver com fazer o básico que escrevi?
É aqui que a maior parte das empresas está perdendo oportunidades, pois pensam que Transformação Digital só serve para dar forma a uma experiência digital para seus clientes, e esquecem de impulsionar e gerar melhorias para seus back-offices e suas operações.
Vou dar um exemplo: uma empresa de revenda de produtos de couro, bolsas e sapatos, digamos, produzidos em Franca, decide entrar no e-commerce, contrata uma agência digital, renova marca, monta site, entras nas redes sociais, programa posts regulares, inicia uma nova relação com seus consumidores, oferece uma experiência diferenciada para quem antes comprava no balcão, por telefone ou por e-mail.
Essa empresa fictícia que estou usando como exemplo, começa a receber pedidos pelo site e pagamentos pelos meios digitais. Seus produtos são entregues por empresas de logística (Correios, Loggi, entre outras), seus clientes recebem comunicação via e-mail, SMS, WhatsApp, Direct do Instagram, Message do Facebook e Reclame Aqui. Virtualmente são respondidas reclamações, dúvidas sobre o produto, sobre o pedido, sobre a logística, a entrega, a devolução e o estorno das vendas.
Esse é um cenário comum, básico de vendas on-line. Isso e mais toda a gestão de estoque, de fornecedores, de logística, de funcionários, facilities e por aí vai.
Não podemos esquecer que o e-commerce é só mais um canal de vendas da empresa. Ela ainda tem os pontos físicos e por isso o consumidor espera que a loja física possa receber e trocar os produtos adquiridos no e-commerce: que para o consumidor é tudo a mesma empresa e com os mesmos sistemas. Claro, ele não precisa ter toda a noção do que é um Omnichannel, mas nós que estamos vendendo, sim, precisamos entender para melhor atender à expectativa dos clientes.
Descrevi um cenário digital em detalhes mas vale lembrar que todos esses processos podem ser feitos por pessoas, usando meios simples, como excel, e-mails, celular e, até mesmo, vídeo-chamadas. Mas é um trabalho árduo e que impõe muito mais riscos à empresa do que uma venda automatizada, pois envolve uma equipe muito maior e, que nem sempre, trabalha de forma afinada.
Nesse modelo, além dos riscos maiores, é possível que sua margem de lucro seja menor, pois haverá mais erros, mais retrabalho, mais custo de back-office e uma série de outros custos que não costumam ou não podem ser mapeados. Será que a rentabilidade da venda online será a desejada?
Por incrível que parece esses pontos não são levados em consideração. As pessoas estão preocupadas com as tarefas do dia a dia. Mas, e a estratégia? Bem, vocês já sabem a resposta.
Saindo do básico, entramos numa visão mais clara sobre tendências globais, sobre o comportamento do mercado em geral, não só sobre o seu mercado, o micro, mas o macro, porque hoje os disruptores estão aí para quebrar cadeias de valor antigas, e por isso mudar cenários hegemônicos.
É muito importante ter o aprendizado contínuo, Lifelong Learning, voltado para o que está acontecendo no mundo, sobre as ondas de inovação na cadeia de fornecimento em que sua oferta está inserida. O aprendizado contínuo e provocativo deve ajudar a manter o radar ajustado, que serve para garantir um tempo de manobra, um timing adequado à situação para que não aconteça o mesmo que aconteceu com Seu João.
Peter Drucker diz que a cultura come a estratégia no café da manhã. Diante dessa afirmação, qual seria o papel da alta gestão para garantir que a empresa esteja com o radar ajustado e apontando para os locais corretos?
Buscar a perenidade do negócio deve ser o objetivo maior de qualquer alta gestão, acima até de visões pessoais ou sentimentos. Um grupo heterogêneo, diverso e antenado, que já realizou conquistas nesse segmento é uma excelente opção para aconselhamento e mentoria de seu time interno.
Baseado em experiências práticas quanto tempo não economizamos se pararmos para entender os pontos propostos e confrontarmos com o conhecimento existente?
Sabendo que hoje em dia trabalhamos com empoderamento dos times para democratizar a tomada de decisão de nossos colaboradores, é nosso papel arar essa terra e deixá-la fértil, adubá-la com Management 3.0, OKRs, Agile e Inovação Aberta.
Um Conselho Diretor tem como meta garantir que esses processos sejam corretamente planejados, instalados e aferidos. Garantindo que essa decisão seja consensual, equilibrada e que tenha como foco garantir a perenidade do negócio.
Por isso, se eu posso te dar um Conselho, traga pessoas com visão ampla que estejam envolvidas realmente com seu propósito, promova um ambiente colaborativo que lhe ajude nas tomadas de decisão visando essa transição do “figital” que é quando saímos do ambiente físico para o digital, de forma perene e segura.
Márcio Teschima, Active Council Member; Active Executive Mentoring Member; Expert Manager and Leader in Business and Company Development; Expert in Agile Trends and Agile Management, Management 3.0; Leader of Operational Teams and Technology; ANPPD member; IBGC member.