Antes de fazer parte de um Conselho, acho importante saber mais sobre a diversidade de seus membros
Por Gillian Borges
A primeira pergunta seria sobre a idade dos outros Conselheiros do board. Se todos forem 60 ou até 70+, saberei que serão extremamente técnicos quanto à governança e finanças, terei muito que aprender com eles, mas provavelmente serão pouco afeitos à inovação e devem imaginar que o pessoal da TI só quer inventar moda. Bem capaz que tenham pouca informação sobre a premente transformação digital e o quanto ela é fundamental para qualquer empresa. Saberei que terei de usar fortes argumentos em prol de uma empresa omnichannel, e que, possivelmente, machine learning, inteligência artificial, realidade virtual, metaverso, presença gamer serão termos de pouca compreensão do meu novo grupo de trabalho.
Depois eu gostaria de saber se há mulheres no Conselho ou se serei a primeira. Isso vai mostrar que minha jornada para fazer a diferença provavelmente será mais árdua. Estudos mostram que o impacto de uma mulher no Conselho costuma ser baixo. Elas começam a fazer diferença nas decisões a partir do momento que são pelo menos duas. Hoje, muito se fala sobre a importância da diversidade. Mas não adianta incluir mulheres se elas não ganham voz, se, verdadeiramente, suas opiniões não são ouvidas e suas ideias não são discutidas com deferência e respeito. Nem que seja para discordar. Toda decisão que for tomada após uma ampla visão das possibilidades será mais rica do que aquelas que analisaram um único caminho.
E então, eu perguntaria sobre diferenças étnicas. Experiências de vida diferente enriquecem as discussões do board, instigam novos pontos de vista e provocam outras necessidades. Pessoas negras, pela configuração de um país historicamente escravagista, trazem, em seu DNA, a ascensão social, a superação de adversidades educacionais e a convivência com consumidores de perfil cultural e socioeconômico diferentes. Tais vivências vão enriquecer as discussões do Conselho. É possível citar outras vivências que podem enriquecer a diversidade, como a de Conselheiros que:
- Vem de comunidades indígenas ou são estrangeiros;
- Moraram fora do país e portanto tiveram contato com outras culturas;
- Casaram-se com estrangeiros, portanto conviveram dentro de casa com outra cultura;
- Praticam uma religião diferente daquela predominante na empresa. Caso de judeus e muçulmanos, se a empresa for de maioria cristã, por exemplo.
Nenhuma dessas variedades de gênero, cultura, religião, etnia ou idade seria decisiva na hora de aceitar fazer parte do Conselho, mas essas informações ajudariam muito a determinar minha postura nas reuniões de board e nos argumentos que levarei para as discussões. Meu papel será sempre de provocar uma visão ampla do negócio, ainda que (por ora) o colegiado entenda que não há motivo para mudanças.
Gillian Borges é Conselheira TrendsInnovation certificada pela Inova Business School, Vice-Presidente da Conselheiros TrendsInnovation, Mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Mackenzie, Publisher pela Stanford University, graduada em Comunicação Social e consultora de negócios com foco em Inovação, Tendências, Futuro, Comunicação Estratégica e Marketing. Faz mapeamento de tendências e foresight para empresas internacionais, apresentando oportunidades de negócios no mercado brasileiro de bens de consumo e HPPC.